Justiça por Jujuba
Família de artista circense morta no Amazonas cobra que crime brutal seja reconhecido como feminicídio
Por Dora Tupinambá (*)
Mais de um ano após o assassinato da artista circense venezuelana Julieta Hernández, o caso que chocou o Amazonas ganha novo desdobramento: a família da artista voltou nesta terça-feira (13/5) ao estado para pedir formalmente que o crime seja reclassificado como feminicídio. Conhecida como Palhaça Jujuba, Julieta foi brutalmente assassinada em dezembro de 2023 enquanto percorria, de bicicleta, a rodovia BR-174 em direção à Venezuela.
O corpo da artista foi encontrado semanas depois, enterrado em uma área de mata fechada no município de Presidente Figueiredo, com sinais claros de violência: mãos e pés amarrados, marcas de espancamento e indícios de estupro. O casal Thiago Agles e Deliomara dos Anjos está preso e responde por latrocínio, estupro e ocultação de cadáver — mas a tipificação do crime como feminicídio não foi incluída na denúncia inicial.
A irmã da vítima, Sophia Hernández, veio ao Amazonas acompanhada por representantes de movimentos sociais e da União Brasileira de Mulheres (UBM) para pedir à Justiça o reconhecimento do viés misógino e xenofóbico do crime. “Julieta foi morta não só por ser mulher, mas também por ser estrangeira, artista, andar sozinha por um território que ainda resiste à liberdade feminina. Isso é feminicídio, e precisa ser reconhecido como tal”, afirmou.
A comitiva foi recebida pela presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, desembargadora Nélia Caminha Jorge, que prometeu acompanhar de perto o pedido e se comprometeu a conversar com a juíza do caso em Presidente Figueiredo. A UBM também solicitou habilitação no processo como assistente de acusação.
Julieta, que morava no Brasil desde 2015, percorria estradas como cicloviajante e artista independente. Sua missão era espalhar alegria como palhaça, cruzando fronteiras com sua bicicleta, nariz vermelho e sonhos de liberdade. A morte interrompeu brutalmente sua jornada, mas não calou a voz de quem acredita que a arte e o direito à vida não podem ser enterrados com o corpo de uma mulher.
No município onde seu corpo foi encontrado, ainda há silêncio e dor. Mas nesta terça-feira, a Amazônia ouviu novamente o clamor por justiça. E a justiça, para ser plena, precisa dizer o nome do crime que tirou a vida de Julieta: feminicídio.