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Trump como Papa? Imagem gerada por IA e publicada pela Casa Branca causa perplexidade global

A foto, divulgada nas redes sociais oficiais de Donald Trump e da Casa Branca, mostra o presidente norte-americano vestido como pontífice. A publicação, sem explicação ou contexto, repercutiu internacionalmente e acendeu alertas sobre o uso político da Inteligência Artificial

Por Dora Tupinambá (*)

O mundo assistiu, entre perplexo e incrédulo, à mais recente façanha midiática do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Neste sábado (3/5), uma imagem artificialmente gerada, na qual Trump aparece vestido como o papa, foi publicada em suas redes sociais e também nos perfis oficiais da Casa Branca, sem legenda, sem contexto, sem qualquer explicação. O gesto, que muitos inicialmente pensaram ser uma montagem feita por algum internauta fanático, veio do próprio alto escalão do governo norte-americano — e repercutiu de forma imediata na imprensa internacional.

A imagem exibe Trump trajando a batina branca papal, mitra dourada e cruz no peito, sentado como se fosse o novo líder da Igreja Católica. A postagem surge poucos dias após o funeral do Papa Francisco, falecido em abril, e às vésperas do conclave que escolherá seu sucessor, previsto para começar em 7 de maio no Vaticano.

Sem qualquer tipo de legenda ou justificativa, a publicação foi lida por muitos como provocação, enquanto outros interpretaram como mais um capítulo da já conhecida estratégia de Trump de dominar o ciclo de notícias a partir de imagens fortes e polêmicas.

A imprensa internacional reagiu com espanto. O El País, da Espanha, classificou a ação como “uma brincadeira de gosto duvidoso”. A rede NDTV, da Índia, descreveu a cena como “potencialmente ofensiva para milhões de católicos no mundo inteiro”. Já a revista americana Time analisou a postagem sob uma lente mais crítica: “Trump está testando os limites do aceitável, ao cruzar as fronteiras entre fé, política e manipulação digital”.

Mais que uma imagem absurda, o episódio escancara os riscos de um novo tempo. Em pleno 2025, quando a Inteligência Artificial é capaz de produzir imagens hiper-realistas em segundos, o uso dessas ferramentas por autoridades máximas do poder político mundial levanta questões éticas sérias. Estamos preparados para distinguir o real do fabricado? Quem se responsabiliza pelos efeitos de uma peça visual sem lastro na realidade, mas com enorme poder simbólico?

Como jornalista e cidadã, me coloco entre os que não riram. A figura papal, independentemente da fé de cada um, representa um símbolo sagrado para bilhões. Usá-lo como figurino de marketing político — e ainda mais sob o luto global pela perda de um pontífice — é um sinal perturbador do tempo em que vivemos. Um tempo em que a verdade é fabricada por algoritmos e distribuída com carimbo oficial.

Silêncio da Igreja. Silêncio das instituições democráticas. Silêncio das plataformas digitais. O barulho ficou todo por conta da imagem. E Trump, mais uma vez, conseguiu o que queria: ser o centro do mundo, mesmo à custa do sagrado.

(*) jornalista e cristã

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