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Amazônia encanta a Bienal: Cultura, saber e identidade ganham protagonismo no Rio

Livros que celebram as lendas do Caprichoso e a força da Cunhã esgotam na Bienal do Livro 2025 e reafirmam o papel da UEA como produtora de conhecimento e guardiã dos saberes amazônicos

A Amazônia roubou a cena na Bienal do Livro Rio 2025. Em menos de uma hora, o livro infantil “As aventuras da Cunhã”, de Isabelle Nogueira e Darlisom Ferreira, esgotou todos os exemplares no estande da Editora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). No dia anterior, o lançamento de “Caprichoso: o livro das lendas”, organizado por Diego Omar, Thayron Rangel e Roberto Sena, já havia emocionado o público carioca ao apresentar, em palavras e imagens, as lendas que dão vida ao Boi Caprichoso no Festival de Parintins desde 1996.

Ambas as obras não são apenas produtos culturais. Elas são manifestos da resistência, da memória e da potência criativa da Amazônia, que agora ecoa para o Brasil e o mundo por meio da literatura, da pesquisa e da tradição oral transformada em ciência e educação.

“Mais do que vender livros, estamos compartilhando saberes, valorizando nossa cultura e plantando sementes de orgulho amazônico nas gerações futuras”, celebra Isabelle, emocionada com o carinho do público e o sucesso absoluto da obra.

O livro, em formato de quadrinhos, conduz as crianças — e também os adultos — a uma viagem encantada que começa em Manaus e desembarca em uma ilha mágica, onde as cores, os sons e os saberes da floresta se transformam em aventura, beleza e aprendizado. Isabelle, que é cunhã-poranga do Boi Garantido e embaixadora do Festival de Parintins, assume também o papel de guardiã dos saberes ancestrais, levando ao público uma narrativa que transcende a fantasia e se conecta diretamente com a identidade amazônica.

Paralelamente, a obra “Caprichoso: o livro das lendas” surge como um marco histórico. Resultado de um trabalho meticuloso do Centro de Documentação e Memória do Boi Caprichoso (Cedem), o livro resgata, organiza e eterniza as lendas que encantam a galera azul e branca há quase três décadas. É uma obra que não apenas registra a história, mas também dá visibilidade ao complexo universo simbólico, estético e político que o boi de Parintins representa.

“Esse livro é parte de um processo de resistência cultural. É sobre memória, identidade e sobre como a Amazônia se afirma no mundo, não apenas como paisagem, mas como produtora de conhecimento e cosmologia própria”, afirma o professor Diego Omar, um dos organizadores.

Transformar saber em resistência cultural

A participação da UEA na Bienal do Livro Rio 2025 não é mero protocolo institucional. É uma estratégia robusta de valorização da ciência amazônica, de difusão do conhecimento produzido na região e de fortalecimento das narrativas próprias do território.

A Editora da UEA se consolida como uma ferramenta de transformação social, cultural e científica. Mais do que publicar livros, ela produz ciência, articula memória e gera impacto social, conectando a universidade pública com as comunidades, os saberes ancestrais e o futuro.

“A UEA não é apenas uma universidade. É uma ponte entre o conhecimento científico, os saberes tradicionais e a cultura popular. Cada livro que lançamos é um ato de resistência, de afirmação e de construção de um futuro sustentável, inclusivo e culturalmente forte”, destaca Isolda Prado, diretora da Editora da UEA.

A universidade, por meio de seus pesquisadores, docentes, alunos e parceiros, reafirma que a Amazônia não é um cenário exótico visto de fora, mas um território que pensa, cria, produz ciência e cultura de alto valor acadêmico e simbólico.

Orgulho e protagonismo

O sucesso dos lançamentos de “As aventuras da Cunhã” e “Caprichoso: o livro das lendas” reflete um movimento crescente: o de uma Amazônia que reivindica seu lugar no centro das discussões culturais, acadêmicas e econômicas do Brasil e do mundo.

O público carioca lotou o estande, emocionado, sedento por conhecer uma Amazônia contada por quem a vive e a sente. E o Valor Amazônico — veículo que tem como missão ser porta-voz dos valores da floresta — celebra esse momento como um divisor de águas na construção de uma narrativa amazônica fortalecida, protagonista e, sobretudo, feita por amazônidas.

“Somos cultura, somos saber, somos ciência. E estamos prontos para mostrar ao mundo a grandeza da Amazônia viva, pensante e atuante”, conclui Isabelle, segurando nas mãos — e no coração — a certeza de que a Cunhã e o Caprichoso agora também habitam as páginas da história.

Fotos:  Daniel Brito/UEA

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