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Adeus a uma lenda azul: morre Raimundinho Dutra, o poeta maior do Boi Caprichoso

Compositor da primeira toada do bumbá azul e branco, Raimundinho encantou gerações com sua arte e deixa um legado imortal na cultura popular da Amazônia

A cultura do Amazonas amanheceu mais silenciosa, nesta segunda-feira (5/5). Faleceu na tarde de domingo (4/5), aos 93 anos, o compositor Raimundinho Dutra, uma das figuras mais importantes da história do Boi Caprichoso e da música popular amazônica. Autor da primeira toada oficial do bumbá azul e branco, em 1943, Raimundinho foi o grande poeta do Caprichoso — alma sensível e voz dos bois de Parintins nas últimas oito décadas.

Natural da Ilha Tupinambarana, Raimundinho foi testemunha viva da transformação do festival folclórico em espetáculo internacional. Compôs dezenas de toadas que marcaram a memória dos brincantes, como Sereia, Areia Branca e Campeão da Terra, obras que ainda hoje emocionam torcedores, artistas e admiradores da cultura regional.

Aos 14 anos, Raimundinho já fazia história ao escrever a primeira toada para o boi de coração estrelado. Desde então, jamais parou.

Mesmo depois de se mudar para Manaus, na década de 1960, onde trabalhou na construção civil e posteriormente na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Raimundinho jamais se afastou do Caprichoso. Seguiu compondo, participando de eventos culturais e sendo homenageado por onde passava. Em 2013, durante as comemorações do centenário do boi azul, foi reverenciado como uma das maiores referências da história do festival.

Com voz mansa, olhar firme e uma memória impressionante, Raimundinho Dutra era daqueles que sabiam transformar a vivência amazônica em poesia cantada. Sua partida representa o fim de um ciclo, mas sua obra continua viva, embalada, ano após ano, pelas toadas que fazem do Festival de Parintins um dos maiores espetáculos do Brasil.

Raimundinho deixa filhos, netos, admiradores incontáveis e um legado que não cabe em palavras — apenas nas emoções que despertava a cada batida do tambor.

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