DESTAQUEMEIO AMBIENTE

Manaus avança no novo aterro sanitário e se aproxima de solução histórica para resíduos sólidos

Primeira célula chega a 75% de execução, obra entra na reta final e operação está prevista para fevereiro de 2026

A implantação do novo aterro sanitário de Manaus entrou em fase decisiva. Localizado no quilômetro 19 da rodovia AM-010, o empreendimento já alcançou 75% de execução da primeira célula, marco confirmado durante vistoria técnica realizada nesta segunda-feira (15) pelo prefeito David Almeida. A previsão oficial é de que o sistema entre em operação a partir de fevereiro de 2026, inaugurando uma nova etapa na política de resíduos sólidos da capital.

Mais do que uma obra de infraestrutura, o novo aterro representa a tentativa de encerrar um passivo ambiental que atravessou mais de quatro décadas em Manaus. A implantação ocorre dentro de um arranjo jurídico, técnico e ambiental construído em conjunto entre a Prefeitura, o Ministério Público do Amazonas e o Judiciário, por meio da Vara do Meio Ambiente, com base em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).

Quatro células, implantação gradual

O projeto ocupa uma área total de 67 hectares, dividida em quatro células operacionais, cada uma com aproximadamente cinco hectares. A estratégia de implantação por módulos permite que o sistema entre em funcionamento de forma gradual, reduzindo riscos operacionais e permitindo ajustes técnicos à medida que novas células são ativadas.

Quando estiver em plena capacidade, o novo aterro poderá receber até 2.600 toneladas de resíduos por dia, com vida útil estimada em 20 anos. A obra é conduzida pela Secretaria Municipal de Limpeza Urbana (Semulsp) e integra o Plano Municipal de Resíduos Sólidos, com todas as licenças ambientais exigidas pelos órgãos competentes.

Impermeabilização reforçada e proteção ao lençol freático

Um dos pontos mais sensíveis — e historicamente criticados — na destinação final do lixo em Manaus é o risco de contaminação do solo e das águas subterrâneas. No novo aterro, a prefeitura afirma ter adotado um sistema de proteção ambiental de alta complexidade, composto por quatro camadas de impermeabilização.

A estrutura inclui argila compactada, geotêxtil, geomembrana de polietileno de alta densidade (PEAD) e geocomposto bentonítico (GCL), combinação que, segundo o projeto técnico, garante segurança ao solo e ao lençol freático, atendendo às normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em especial a Resolução nº 430.

Biogás, biometano e redução de emissões

Além da destinação adequada dos resíduos, o empreendimento foi concebido com foco na valorização energética do lixo. O biogás gerado pela decomposição dos resíduos será captado e convertido em biometano, combustível renovável com potencial para abastecer até 80 veículos por dia.

A proposta inclui o uso do biometano em caminhões coletores e, futuramente, em parte da frota do transporte público municipal, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa e alinhando Manaus a práticas mais modernas de economia circular.

Investimento privado, controle público e transição até 2028

O novo aterro sanitário é resultado de um investimento privado, realizado pelas empresas que já atuam na limpeza urbana da cidade. O município, no entanto, mantém a propriedade e o controle da área, modelo adotado para preservar a soberania pública sobre um serviço essencial.

Paralelamente ao avanço da obra, a Prefeitura de Manaus e o Ministério Público firmaram, em abril de 2024, um acordo administrativo que autoriza o funcionamento do atual aterro controlado até 2028. A decisão, homologada pela 3ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Amazonas, garante uma transição segura entre o modelo antigo e o novo sistema, sem interrupção dos serviços de coleta e destinação final.

Mais que obra, um teste de governança ambiental

Embora o avanço físico do novo aterro represente um passo importante, o desafio que se impõe vai além da engenharia. A efetividade do projeto dependerá de governança contínua, fiscalização ambiental rigorosa, transparência de dados e integração com políticas de redução, reciclagem e educação ambiental.

O aterro não encerra o problema do lixo em Manaus — mas redefine o ponto de partida. O que virá depois será decisivo para medir se a cidade, de fato, conseguiu transformar uma solução técnica em política pública sustentável.

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