DESTAQUE🟩 SÉRIE ESPECIAL — AMAZÔNIA NAS URNAS

O que a Amazônia quer dos presidenciáveis em 2026

Entre a COP30 e as eleições, a floresta se impõe como tema central da agenda nacional. Populações tradicionais, cientistas e empresários cobram compromissos reais com sustentabilidade, justiça social e soberania regional.

Por Dora Tupinambá (*)

A Amazônia entrou definitivamente no debate presidencial de 2026.

O cenário político que se desenha após a Cúpula do Clima de Belém e a visibilidade global da COP30 transformaram a região em eixo estratégico do futuro do Brasil — não apenas ambiental, mas econômico, social e geopolítico.

E com isso, surge uma nova pergunta que ecoa de norte a sul da floresta: o que a Amazônia quer ouvir dos candidatos à Presidência da República?

A resposta vem de diferentes vozes — comunidades indígenas e ribeirinhas, universidades, empreendedores da bioeconomia, servidores públicos, movimentos urbanos e lideranças religiosas.

Todas convergem num ponto comum: a Amazônia quer deixar de ser promessa de campanha e se tornar prioridade de Estado.

Um país que começa pela floresta

A Carta da Floresta, construída por redes de pesquisadores, entidades ambientais e movimentos sociais, resume em cinco pilares o que a região espera ver incorporado nos programas de governo de 2026:

Soberania e governança territorial

Combate efetivo à grilagem e à mineração ilegal.

Fortalecimento da presença do Estado nas fronteiras e nos rios.

Planejamento integrado com segurança alimentar e hídrica.

Economia da floresta em pé

Apoio fiscal à bioindústria, à ciência amazônica e ao manejo comunitário.

Criação de zonas de desenvolvimento sustentável com base em recursos renováveis.

Estímulo à produção rural familiar e ao cooperativismo verde.

Educação e tecnologia da Amazônia

Ampliação de universidades e institutos técnicos na região.

Fomento à inovação em energias limpas e economia digital da floresta.

Inclusão da educação climática nos currículos escolares.

Saúde e dignidade social

Acesso à saúde pública de qualidade nas zonas ribeirinhas e indígenas.

Políticas específicas para mulheres, juventude e povos tradicionais.

Garantia de saneamento básico e abastecimento de água potável.

Participação política e voz dos povos da floresta

Representação direta de indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais em instâncias de governo.

Consulta prévia e vinculante em obras e políticas que afetem seus territórios.

Ampliação do orçamento participativo ambiental.

Do discurso à prática: o que o eleitor amazônico vai cobrar

As pautas ambientais e climáticas, que antes ocupavam o rodapé dos programas de governo, passam a ser termômetro de credibilidade política.

Em 2026, prometer “preservar a Amazônia” não será suficiente. Os candidatos precisarão explicar como, com que orçamento e com quem pretendem fazer isso.

Segundo análise do sociólogo Eduardo Lins, do Núcleo de Estudos Amazônicos da UEA,

“A Amazônia se tornou o campo onde se mede a coerência entre discurso e governabilidade. Quem não compreender a complexidade da floresta, perde a confiança do eleitor e do mundo”.

A pressão internacional também reforça a cobrança interna: governos, bancos e empresas já condicionam investimentos à governança ambiental e social.

A floresta, portanto, tornou-se um ativo diplomático e econômico, e o eleitor da região sabe disso.

Economia verde como prioridade nacional

Da Zona Franca de Manaus às startups de Belém, cresce um consenso: a bioeconomia pode ser a nova base de desenvolvimento regional.

Empresários locais e centros de pesquisa como o CBA (Centro de Bionegócios da Amazônia) defendem incentivos para cadeias produtivas de baixo carbono e o fortalecimento da inovação tecnológica amazônica.

“Precisamos de políticas permanentes, não de editais pontuais. A Amazônia quer produzir riqueza sem destruir sua casa”, resume o engenheiro Márcio de Miranda Santos, diretor do CBA, em entrevista ao Valor Amazônico.

Os presidenciáveis que compreenderem essa lógica — desenvolver com sustentabilidade e ciência — terão vantagem na narrativa política de 2026.

A Amazônia quer ser sujeito, não cenário

Os movimentos indígenas e socioambientais, fortalecidos após a COP30, exigem participação direta nas decisões nacionais.

As lideranças defendem que a Amazônia deixe de ser “tema de discurso” para se tornar espaço de governança compartilhada, com voz real nos ministérios e conselhos de Estado.

Para a ativista Djuena Tikuna, cantora e liderança indígena,

“é hora de o Brasil ouvir a floresta, não apenas falar por ela. A Amazônia não quer ser cenário de promessas, mas protagonista de políticas”.

2026: o voto que pode redefinir o Brasil

Ao reunir demandas tão diversas, a Amazônia apresenta ao país um espelho do futuro: um território que quer crescer, mas com justiça climática, respeito cultural e economia limpa.

Os presidenciáveis que compreenderem esse chamado podem encontrar na floresta a chave da legitimidade política — e no eleitor amazônico, o voto da transformação nacional.

(*) Jornalista amazônida, fundadora do Valor Amazônico

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