Anielle Franco exalta protagonismo indígena e combate ao racismo ambiental na COP30
Em entrevista exclusiva ao Valor Amazônico, ministra reforça que quilombolas, indígenas, população preta e periférica devem ser centro das políticas climáticas; agenda na COP30 amplia participação social e articulação internacional
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, afirmou que a COP30 marca um momento histórico para a construção de políticas de justiça climática no Brasil, com a participação direta de povos originários, comunidades quilombolas, populações periféricas e lideranças negras. Em entrevista exclusiva ao Valor Amazônico, concedida ao repórter Kennedy Costa durante as atividades da conferência em Belém, a ministra ressaltou que “o futuro só pode ser discutido quando reconhecemos o passado que nos trouxe até aqui”.
A fala ecoa a linha política que o Ministério da Igualdade Racial têm adotado desde a preparação da COP30, articulando participação ampliada, combate ao racismo ambiental e protagonismo das comunidades que, historicamente, protegem ecossistemas e modos de vida tradicionais.
“É fruto da luta dos movimentos”, afirma ministra
Ao ser questionada sobre os legados da COP30 para a população preta, periférica, quilombola e indígena, Anielle Franco enfatizou que os avanços anunciados durante a conferência — entre eles a declaração do presidente Lula sobre racismo ambiental e compromissos de financiamento climático — são resultado direto da mobilização social.

“Antes de falar do futuro, é preciso reconhecer o passado. Tudo o que conquistamos até aqui é fruto da luta dos movimentos, das lideranças que vieram antes de nós. Quando juntamos vontade política com as vozes da ponta, a gente consegue avançar”, disse a ministra ao Valor Amazônico.
Emocionada, ela citou nomes como Marina Silva, Sônia Guajajara e a professora Zélia Amador, referência histórica do movimento negro amazônico, com quem havia acabado de cantar em um dos espaços culturais da COP.
Agenda da ministra na COP30 reforça justiça racial e participação comunitária. Na programação oficial da COP30, Anielle Franco tem desempenhado papel central na articulação de políticas que conectam igualdade racial, clima e direitos humanos.
Entre as ações recentes:
🔹 Reunião com negociadores internacionais da UNFCCC
A ministra participou de encontros com representantes de países-membros para defender que racismo ambiental e direitos de povos tradicionais sejam incorporados nos acordos climáticos.
🔹 Participação no evento “Construindo Pontes – Sociedade Civil, Justiça Climática e Direitos Humanos”
O encontro reuniu movimentos sociais, quilombolas, povos de terreiro e juventudes pretas para construir diretrizes de participação popular na COP30.
🔹 Atuação no Pavilhão “Círculo dos Povos”
Espaço oficial destinado a programações de povos indígenas, quilombolas, afro-brasileiros e comunidades periféricas — um marco na história das COPs, reforçando pluralidade e protagonismo.
🔹 Articulação com a ministra Sônia Guajajara e com movimentos amazônicos
A agenda conjunta dá centralidade aos territórios como referência para combate às desigualdades climáticas.
“O meio ambiente está gritando; política climática tem que ser política de Estado”
A ministra destacou ainda que os eventos extremos que marcaram o Brasil nas últimas semanas — enchentes no Sul, secas no Norte, calor extremo e perda de biodiversidade — revelam a urgência de ampliar políticas permanentes para adaptação e proteção dos povos tradicionais.
“Começamos a semana com fenômenos da natureza nos lembrando que precisamos cuidar do planeta. Isso não pode ser apenas deste governo — tem que ser política de Estado. E cuidar dos nossos povos tradicionais é cuidar do futuro”, afirmou.
Segundo ela, quilombolas, indígenas, ribeirinhos e comunidades pretas urbanas são agentes de preservação cultural e ambiental, e sua presença na COP30 representa não só resistência, mas a inteligência ancestral indispensável para enfrentar a crise climática.
COP30 inaugura nova fase de participação social no Brasil
A participação ampliada de lideranças comunitárias, movimentos de base e coletivos de juventude reforça uma virada institucional: políticas climáticas feitas com os territórios, e não apenas para os territórios.
O Ministério da Igualdade Racial, segundo Anielle, trabalha para que a COP30 seja o início de uma política estável de Estado:
“Este é o começo. A luta continua depois da COP. O compromisso é permanente.”
Foto: Kennedy Costa


