Captura de carbono na Amazônia está em risco, alerta novo estudo
Desmatamento pode liberar 2,9 bilhões de toneladas de carbono até 2030 e transformar a Amazônia de aliada climática em foco de crise ambiental
A Amazônia, o maior reservatório natural de carbono do planeta, corre o risco de perder sua capacidade de conter o aquecimento global. Um estudo divulgado nesta quinta-feira (23) pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) alerta que o bioma poderá deixar de capturar 2,94 bilhões de toneladas de carbono até 2030 se os países da região não reforçarem as políticas de combate ao desmatamento.
Mesmo mantendo as ações ambientais atuais, a perda seria de 1,1 bilhão de toneladas nos próximos cinco anos — o equivalente a 2% da absorção total registrada em 2023. O levantamento utilizou monitoramento por satélite, modelagem ambiental e projeções desenvolvidas no projeto Ciência e Saber Indígena pela Amazônia, parceria entre a RAISG e o Woodwell Climate Research Center.
Contagem regressiva ambiental
A pesquisa abrange Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela e indica que a floresta se aproxima de um ponto de inflexão climático. Segundo os pesquisadores, sem o fortalecimento das políticas de proteção e o reconhecimento do papel central dos povos indígenas e comunidades locais, a Amazônia pode deixar de ser aliada climática e se tornar fonte de emissões.
Os dados mostram que Terras Indígenas e Áreas Protegidas concentraram 61% do carbono florestal capturado em 2023 e continuam sendo as maiores barreiras contra o avanço da degradação. Nessas áreas, as florestas permanecem mais conservadas, com menor desmatamento e maior capacidade de regeneração.
O papel dos territórios protegidos
Fortalecer a governança sobre Terras Indígenas, Unidades de Conservação e florestas comunitárias é considerado essencial para conter a crise. No Brasil, essas áreas representam 44% da cobertura florestal amazônica. Já as regiões não protegidas sofrem maior pressão de atividades agropecuárias e mineradoras, o que reduz a saúde das árvores e a capacidade de capturar CO₂.
Três cenários para o futuro
O estudo projeta três caminhos possíveis até 2030.
No pior cenário, sem controle efetivo do desmatamento, a captura cairia de 85 bilhões para 82,2 bilhões de toneladas — redução de 3,5%.
Num cenário intermediário, com políticas enfraquecidas, a perda seria de 2,29 bilhões de toneladas (2,7%).
Mesmo no cenário moderado, mantendo o atual ritmo de proteção, o bioma ainda deixaria de capturar 1,1 bilhão de toneladas, demonstrando que apenas manter o status quo não basta.
Um bioma sob pressão
Desde 1985, mais de 88 milhões de hectares de floresta amazônica foram convertidos em áreas agropecuárias, urbanas e mineradoras — uma perda equivalente a quase duas vezes o território da Espanha. Entre 2000 e 2023, a Amazônia já deixou de capturar 5,7 bilhões de toneladas de carbono, redução de 6,3% em sua função climática global.
“Menos floresta significa menos carbono retido — e mais gases de efeito estufa na atmosfera, o que acelera secas, incêndios e eventos extremos”, resume o relatório da RAISG.
Ciência e saberes tradicionais
A rede defende políticas integradas que unam ciência, tecnologia e saberes indígenas, promovendo uma economia de baixa emissão e o uso sustentável dos recursos florestais e hídricos. O documento também cobra ações urgentes contra o desmatamento, incêndios e crimes ambientais.
Cada tonelada de carbono retida nas florestas amazônicas, afirma o estudo, “é um investimento direto no futuro do planeta”.
O que está em jogo
Se a tendência de degradação continuar, a Amazônia pode deixar de ser um sumidouro natural de carbono — que absorve CO₂ — para se tornar uma fonte emissora, agravando o aquecimento global. O impacto afetaria não apenas o equilíbrio climático, mas também a segurança hídrica, alimentar e cultural de milhões de pessoas que dependem da floresta.


