Virada Cultural Amazônia de Pé mobiliza sociedade para proteger bioma
Evento nacional marca contagem de 50 dias para a COP30 e reforça luta pelas florestas públicas não destinadas
A 4ª edição da Virada Cultural Amazônia de Pé começou nesta sexta-feira (19/09), em Belém (PA), mobilizando artistas, comunidades, coletivos e sociedade civil organizada em defesa da Amazônia. O evento, que se estende até domingo (21/09), ocorre em todo o Brasil e marca a contagem regressiva de 50 dias para a COP30, que será realizada em novembro, também na capital paraense.
Com o lema “50 dias para a COP, 50 milhões de hectares a serem protegidos”, o movimento chama atenção para a situação das Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs) — 50 milhões de hectares que permanecem sem proteção legal e que são alvo frequente de desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo.
Vozes da mobilização
“Desde o começo do Amazônia de Pé, o nosso grande objetivo é fazer com que a Amazônia e os povos que vivem nela não sejam tratados como assunto regional. Esse chamado é pelo comprometimento coletivo em lutar por esse território”, afirmou Catarina Nefertari, Gestora de Comunicação e Mobilização do movimento.
Segundo ela, proteger a Amazônia é uma das maiores contribuições que o Brasil pode oferecer ao futuro do planeta, já que o território tem papel decisivo no equilíbrio climático global.
Programação em Belém e no Brasil
Somente em Belém, cidade-sede da COP30, estão previstas 64 atividades, entre oficinas de remédios naturais, rodas de conversa, cineclubes e apresentações culturais. A chef indígena Tainá Marajoara lidera um manifesto em defesa da cultura alimentar amazônica, enquanto coletivos como o Chibé promovem debates sobre mudanças climáticas em feiras e espaços públicos.
No Sudeste e Sul, a programação se espalha por territórios populares: em Magé (RJ), a Feira Onça reúne economia solidária e discussão climática; em Porto Alegre (RS), o coletivo SOS Floresta do Sabará organiza ações pela defesa de áreas de Mata Atlântica afetadas pelas enchentes de 2024.

Pressão política e PL popular
Além da mobilização cultural, o movimento articula um Projeto de Lei de Iniciativa Popular Amazônia de Pé, que já reúne mais de 300 mil assinaturas físicas e precisa alcançar 1,5 milhão para começar a tramitar no Congresso. A proposta busca dar destinação legal às FPNDs, priorizando povos indígenas, comunidades quilombolas e populações tradicionais — justamente os que menos registram crimes ambientais em seus territórios.
“Se o Brasil quer desenvolvimento econômico e justiça social, precisa destinar essas florestas para quem sempre as protegeu. Só assim teremos a Amazônia de pé por muitas gerações”, reforçou Catarina.
Dados alarmantes
De acordo com o Observatório das Florestas Públicas, entre janeiro e julho de 2025 foram 262,5 mil hectares desmatados na Amazônia, sendo 25% em FPNDs. No mesmo período, 59,7 mil hectares dessas áreas foram atingidos por queimadas, em sua maioria em terras federais. O Pará concentrou 59% das áreas destruídas pelo fogo.
Especialistas alertam que as FPNDs podem armazenar até 5 bilhões de toneladas de carbono. Se destruídas, podem liberar 19 bilhões de toneladas de CO₂, o equivalente a 51% das emissões globais estimadas para 2024.
Amazônia, Cerrado e Caatinga de pé
Para o movimento, o engajamento da sociedade não é apenas uma defesa da Amazônia, mas um chamado para a proteção de todos os biomas brasileiros.
“Eu quero a Amazônia de pé, mas também a Caatinga de pé, o Cerrado de pé. É fundamental entender essa interdependência. Assim como os biomas estão conectados, nós, seres humanos, também estamos. Muita gente que se aproximou do movimento conseguiu se reconectar com seu território e sua ancestralidade”, disse Catarina.
Fotos: Amazônia de Pé/Divulgação