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Trabalho infantil recua no Brasil, mas Norte ainda concentra os maiores índices

Amazonas acompanha tendência de queda, porém segue acima da média nacional e expõe desigualdades históricas

O número de crianças e adolescentes submetidos ao trabalho infantil caiu 21,4% no Brasil nos últimos oito anos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (19/9) pelo IBGE. Em 2016, havia 2,1 milhões de pessoas de 5 a 17 anos nessa condição. Em 2024, o contingente caiu para 1,65 milhão — o equivalente a 4,3% da população nessa faixa etária.

Apesar do avanço, o Norte do país permanece como a região com o maior percentual de trabalho infantil (6,2%), bem acima da média nacional. No Amazonas, a redução também foi registrada, mas o estado segue entre os que enfrentam maiores desafios estruturais para erradicar a prática, principalmente nas áreas rurais e nos setores de agricultura, pesca e comércio informal.

Desigualdade regional e vulnerabilidade social

Enquanto o Sudeste apresenta o menor índice do país (3,3%), o Norte e o Nordeste ainda lideram os percentuais de crianças e adolescentes envolvidos em atividades consideradas nocivas ou irregulares. Essa disparidade revela o peso das desigualdades socioeconômicas na perpetuação do trabalho infantil.

De acordo com o IBGE, a maioria das crianças e adolescentes nessa condição é preta ou parda (66,6%) e vive em domicílios de baixa renda. No Amazonas, esse quadro é acentuado pela forte presença de comunidades ribeirinhas e rurais com acesso limitado a políticas públicas, fiscalização e oferta de educação formal.

Bolsa Família contribui para queda mais acelerada

Um dos pontos destacados pelo levantamento é que o trabalho infantil caiu mais entre os beneficiários do Bolsa Família, que hoje representam 36,3% da população de 5 a 17 anos. Enquanto a média nacional é de 4,3%, entre os beneficiários a taxa ficou em 5,2% — a menor diferença já registrada na série histórica.

“Apesar dessa diferença, é interessante observar que ao longo da série histórica, as crianças e adolescentes de domicílios beneficiados pelo Bolsa Família tiveram redução mais acentuada do percentual daquelas em situação de trabalho infantil”, afirmou o analista do IBGE Gustavo Fontes.

No Amazonas, mais da metade da população infantil está em famílias inscritas no programa, o que ajuda a explicar a tendência de queda — ainda que o desafio de romper o ciclo de pobreza e exploração continue enorme.

Educação como chave da mudança

O estudo também mostra que o trabalho infantil está diretamente ligado à evasão escolar: entre crianças e jovens que não trabalham, a taxa de frequência escolar é de 97,5%, contra 88,8% entre os que trabalham. Entre os beneficiários do Bolsa Família, porém, essa taxa sobe para 91,2%, demonstrando o impacto da assistência social na permanência na escola.

No grupo de 16 e 17 anos, onde se concentra mais da metade dos casos de trabalho infantil no país, 82,7% dos beneficiários continuam estudando — ante 81,8% na média nacional.

Um problema persistente

Mesmo em queda, os números revelam que o trabalho infantil segue enraizado no cotidiano de milhares de famílias amazônicas, em especial nas zonas rurais e nas cadeias de agricultura, pesca e comércio informal. Além de violar direitos, a prática perpetua o ciclo da pobreza e compromete o futuro da juventude.

Para romper esse ciclo, especialistas defendem a ampliação das políticas de transferência de renda, o fortalecimento da fiscalização e o investimento em educação e infraestrutura nas áreas mais vulneráveis da Amazônia.

Fotos: Ministério do Trabalho/Divulgação

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