Operação contra garimpo no Amazonas ganha peso político e chega ao governo federal
Ações de combate à mineração ilegal expõem pressões cruzadas entre proteção ambiental, segurança na Amazônia e interesses econômicos
Manaus — A mais recente operação de combate ao garimpo ilegal no Amazonas extrapolou as fronteiras da fiscalização ambiental e se transformou em um tema de disputa política nacional, alcançando o Palácio do Planalto e mobilizando ministérios, parlamentares e governadores da Amazônia Legal.
Coordenada por órgãos federais como Ibama, Polícia Federal e Força Nacional, a operação realizou incursões em áreas de proteção ambiental nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Barcelos e Autazes, com apoio logístico da Marinha e da Aeronáutica. Foram destruídas mais de 70 balsas e dragas, além da apreensão de toneladas de mercúrio e ouro bruto.
O impacto econômico e social das ações provocou reações imediatas de políticos da bancada amazônica no Congresso. Deputados e senadores argumentam que as operações desestruturam economias locais dependentes do garimpo informal e pedem indenizações ou alternativas de geração de renda para as populações afetadas.
Governadores da região também pressionaram o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Casa Civil por um plano de transição econômica para municípios que hoje vivem do garimpo e que serão diretamente atingidos por ações mais duras de repressão.
No outro extremo, organizações ambientais e lideranças indígenas defendem que a escalada da destruição ambiental, do uso de mercúrio e da violência em territórios tradicionais exige ações firmes e contínuas, e que recuos políticos colocariam em risco a credibilidade do Brasil na COP30.

Operação vira pauta no Planalto
O tema chegou à Esplanada dos Ministérios depois que parlamentares apresentaram requerimentos de convocação de ministros para prestar esclarecimentos e sugeriram a criação de um grupo interministerial.
Segundo fontes do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu um relatório conjunto de Ibama, PF, Ministério da Justiça e Defesa sobre os impactos da operação, sinalizando preocupação com a repercussão internacional das ações e com os reflexos sociais no interior da Amazônia.
Desafio de equilibrar a balança
Especialistas ouvidos pelo Valor Amazônico destacam que o episódio evidencia o impasse histórico da região: combater o crime ambiental sem aprofundar a vulnerabilidade econômica de comunidades que dependem da atividade ilegal para sobreviver.
“A repressão é necessária, mas sozinha não basta. Sem políticas de reconversão econômica, essas áreas vão voltar a ser ocupadas pelo crime organizado”, afirma a geógrafa e pesquisadora socioambiental Ana Cristina Melo, da UFAM.
Próximos passos
O governo federal deve anunciar, nas próximas semanas, um plano de apoio emergencial a municípios impactados pelo fim do garimpo, com ações de regularização fundiária, assistência técnica e estímulo à bioeconomia e ao turismo de base comunitária — alternativas consideradas mais compatíveis com a floresta viva.
Enquanto isso, a operação continua em curso, e sua escalada política mostra que o garimpo ilegal no Amazonas não é apenas uma questão ambiental — é um divisor de águas na agenda nacional para a Amazônia.