Em dois dias de ofensiva, operação destrói 71 dragas e amplia combate ao garimpo ilegal no Rio Madeira
Ação conjunta estruturas usadas na extração de ouro entre Manicoré e Humaitá e expõe os impactos ambientais e sociais da atividade
Em dois dias consecutivos de ofensiva (15 e 16 de setembro de 2025), uma megaoperação do governo federal destruiu 71 dragas e balsas utilizadas na extração ilegal de ouro no Rio Madeira, entre os municípios de Manicoré e Humaitá, no sul do Amazonas. A ação é coordenada pela Polícia Federal (PF) em parceria com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), Força Nacional de Segurança e o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI), com autorização da Justiça Federal do Amazonas.
As embarcações foram localizadas no leito do rio e desativadas com uso controlado de explosivos, especialmente na orla de Humaitá. Também houve apreensão de motores, bombas hidráulicas, mangotes, estruturas metálicas e grandes volumes de combustível. Até o momento, não há confirmação oficial de prisões, mas a PF informou que novas ações seguem em andamento nos próximos dias para impedir a reorganização das frentes de garimpo na região.
Além de destruir o leito do Madeira, a atividade garimpeira libera toneladas de mercúrio e sedimentos que contaminam a água, os peixes e toda a cadeia alimentar da região, afetando diretamente a saúde de populações ribeirinhas e povos originários. Comunidades locais relatam redução na pesca, escassez de água potável e aumento de doenças associadas à poluição.

A presença constante de balsas ilegais também ameaça terras indígenas e unidades de conservação, ao mesmo tempo em que incentiva o tráfico de pessoas e o trabalho análogo à escravidão, segundo investigações conduzidas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e o Ministério do Trabalho, que acompanham as operações.

Fiscalização sem alternativas agrava tensão social
Embora comemorada por ambientalistas, a ofensiva também expõe um desafio: sem alternativas econômicas, parte da população local depende do garimpo para sobreviver, o que cria um ciclo de dependência e conflito. Especialistas alertam que ações de repressão precisam vir acompanhadas de políticas públicas de transição econômica, com apoio à pesca, agricultura familiar e atividades sustentáveis.
“O Rio Madeira é um corredor vital para a Amazônia Ocidental, mas está sendo destruído para enriquecer poucos e empobrecer muitos”, resume um agente ambiental que atua na região, sob condição de anonimato. “Ou o Estado oferece caminhos sustentáveis, ou continuará apagando incêndios com gasolina”.