Amazônia na balança: sociedade civil pressiona na contagem regressiva para a COP30
Mobilizações se intensificam por metas ambientais concretas, enquanto novas ferramentas expõem em tempo real a pressão sobre o uso do solo
Belém (PA) — A menos de dois meses da COP30, que ocorrerá em Belém entre os dias 10 e 21 de novembro, a Amazônia entrou no centro da diplomacia climática mundial sob intensa pressão. Enquanto governos estaduais e federal correm para apresentar compromissos de combate ao desmatamento, a sociedade civil organiza uma série de mobilizações para cobrar metas concretas e mecanismos de fiscalização que impeçam retrocessos. A expectativa é que os novos sistemas de monitoramento ambiental em tempo real reforcem a cobrança sobre políticas de uso do solo na região.
Organizações indígenas, ribeirinhas, quilombolas e ambientalistas preparam atos, marchas e fóruns paralelos à COP30, reivindicando participação efetiva na definição das metas brasileiras e acesso direto a financiamentos climáticos. A Aliança dos Povos da Floresta, que reúne dezenas de entidades da Amazônia Legal, anunciou que pretende apresentar um plano próprio de proteção do bioma e de geração de renda com base na bioeconomia e no conhecimento tradicional.
“Não aceitaremos que decisões sobre o nosso futuro sejam tomadas sem nós”, afirmou a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, em nota divulgada pela Aliança.
O Brasil se comprometeu a apresentar um plano de desmatamento zero até 2030, mas diplomatas estrangeiros sinalizam que os compromissos só terão credibilidade se forem acompanhados de mecanismos de rastreabilidade, cronogramas estaduais e relatórios públicos de cumprimento.
Países como Noruega, Alemanha e Reino Unido condicionam novos aportes ao Fundo Amazônia à criação de garantias de governança local, incluindo auditorias independentes e participação de comunidades afetadas nas decisões sobre os projetos.
Monitoramento em tempo real expõe impactos
A chegada do DETER-NF, novo sistema do INPE que detecta diariamente não só o desmatamento em florestas primárias, mas também a degradação e a remoção de vegetação nativa em áreas não florestais da Amazônia, promete aumentar a pressão sobre gestores locais.
Governos estaduais e municipais terão seus dados públicos e atualizados, o que pode afetar diretamente licenciamentos, incentivos fiscais e políticas de ocupação do solo. Ambientalistas avaliam que a transparência em tempo real deve inibir acordos escusos e facilitar ações judiciais e embargos imediatos contra atividades ilegais.
Contagem regressiva e risco de frustração
Especialistas alertam que o sucesso da COP30 depende de o Brasil apresentar resultados já mensuráveis antes de novembro — e não apenas promessas para o futuro. Caso contrário, a conferência pode terminar marcada pela frustração e pelo descrédito sobre a capacidade do país de proteger a maior floresta tropical do planeta.
“Chegamos à COP30 no fio da navalha”, resume o climatologista Paulo Moutinho. “O mundo não quer ouvir planos, quer ver dados e compromissos com prazos reais.”


