Força Nacional reforça presença em Tapauá e Lábrea para proteger terras indígenas e comunidades tradicionais
Decisão do governo federal busca garantir segurança, apoiar a Funai e conter pressões sobre territórios sensíveis no sul do Amazonas
O Ministério da Justiça e Segurança Pública autorizou o envio da Força Nacional de Segurança Pública para atuar por 90 dias em terras indígenas localizadas nos municípios de Tapauá e Lábrea, no sul do Amazonas. A medida foi oficializada pela Portaria nº 1.012, publicada no Diário Oficial da União, e tem como objetivo apoiar a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) na preservação da ordem pública, na proteção das comunidades locais e na continuidade das atividades essenciais desenvolvidas na região.
A presença militar ocorre em um território estratégico, marcado por extensas áreas de floresta, rica biodiversidade e forte presença de comunidades indígenas e ribeirinhas. Nos últimos anos, esses municípios têm registrado crescentes pressões do narcotráfico, da grilagem de terras e do avanço ilegal da exploração de madeira e do garimpo, fatores que ameaçam tanto a segurança das populações quanto a integridade ambiental da região.
Comunidades no centro das disputas
As terras indígenas de Tapauá e Lábrea concentram grupos que dependem diretamente dos rios, lagos e da floresta para manter modos de vida tradicionais. A intensificação de atividades criminosas transformou essas áreas em zonas de tensão, colocando indígenas e ribeirinhos muitas vezes “no meio do fogo cruzado”, como avaliam especialistas em segurança e direitos humanos.
Além de afetar diretamente o cotidiano dessas populações, a instabilidade na região também gera riscos à preservação ambiental. A exploração predatória de madeira e a expansão de atividades ilegais de mineração representam não apenas violações aos direitos territoriais dos povos originários, mas também impactos irreversíveis sobre áreas de floresta que compõem o bioma amazônico.
Ação articulada com órgãos federais

A decisão de enviar a Força Nacional reforça o papel da Funai e atende a pedidos de apoio na região. O efetivo vai atuar em articulação com outros órgãos federais e estaduais de segurança pública, em uma tentativa de integrar ações de proteção territorial e de combate a crimes ambientais e fundiários.
Segundo o governo federal, a atuação terá caráter episódico e planejado, com possibilidade de prorrogação conforme avaliação da Funai e das autoridades de segurança. Embora o número de agentes não tenha sido divulgado, o reforço sinaliza a preocupação do Estado em não deixar comunidades indígenas desassistidas em um cenário de conflitos e ameaças constantes.
Segurança e proteção ambiental como prioridades
Especialistas em direitos indígenas e socioambientais destacam que a presença da Força Nacional pode ter papel crucial ao assegurar condições mínimas de segurança para que a Funai e outros órgãos possam dar continuidade a projetos de gestão territorial, monitoramento ambiental e políticas de inclusão das comunidades locais.

No entanto, organizações da sociedade civil alertam que a medida, embora necessária, deve ser acompanhada de ações estruturantes, como investimentos em educação, saúde, geração de renda sustentável e fortalecimento das lideranças indígenas e comunitárias. Sem isso, o risco é de que a operação seja apenas paliativa diante da complexidade dos desafios que envolvem Tapauá, Lábrea e o sul do Amazonas.