Filtros de nanotecnologia levam água limpa a comunidades indígenas da Amazônia
Projeto Água é Vida distribui tecnologia inovadora para enfrentar a crise hídrica e ampliar a justiça climática na região
Uma tecnologia simples, mas de alto impacto, começa a transformar a realidade de comunidades indígenas na Amazônia. A instituição Água é Vida, em parceria com a Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI Brasil), a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai/Ministério da Saúde) e com apoio da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, iniciou a distribuição de filtros de balde com membranas de ultrafiltração capazes de transformar água de rios em água potável.
O projeto, que já beneficiou mais de 800 famílias na primeira etapa, prevê alcançar até 8 mil famílias em 23 territórios indígenas nos estados do Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Pará e Maranhão. “Levar água potável às aldeias é defender a vida e a dignidade. Este projeto une fé, ciência e ação concreta”, destacou Carlos Vicente, coordenador nacional da IRI Brasil.
Os filtros de nanotecnologia utilizam uma membrana capaz de barrar micro-organismos e sedimentos, prevenindo doenças como diarreias, comuns em regiões sem saneamento básico. A inovação inclui também um sistema de monitoramento digital: cada filtro possui um QR Code que permite coletar dados demográficos, indicadores de saúde e informações ambientais, auxiliando na formulação de políticas públicas de segurança hídrica.
“Além de salvar vidas agora, os dados coletados vão ajudar o poder público a planejar soluções duradouras”, explicou Felipe Martins, integrante do projeto Água é Vida.

Amazônia em crise hídrica
A chegada dos filtros acontece em um contexto crítico. Segundo levantamento da InfoAmazonia, baseado em dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), nove em cada dez terras indígenas da Amazônia Legal foram atingidas pela seca em julho de 2024. O fenômeno, intensificado pelas mudanças climáticas, comprometeu o acesso à água potável em áreas remotas.
Além da seca, a contaminação dos rios por esgoto sem tratamento e a ausência de saneamento básico agravam a vulnerabilidade de milhares de famílias indígenas e ribeirinhas.
Justiça climática e inclusão social
Fundada em 2015, a ONG Água é Vida já distribuiu mais de 9,3 mil filtros de nanotecnologia em diferentes comunidades brasileiras. Em 2025, com o reforço de novos parceiros, a meta é ampliar a cobertura e chegar a 10 mil famílias beneficiadas.

“O que está em jogo não é apenas a água potável, mas a garantia de justiça climática e de inclusão social para populações que historicamente vivem às margens do acesso a direitos básicos”, destacou a instituição em nota.
A iniciativa, ao combinar ciência, solidariedade e espiritualidade, se apresenta como uma resposta concreta a uma das maiores urgências da Amazônia: assegurar água limpa e dignidade para quem dela mais depende.