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Luiz Fernando Verissimo: o cronista que fez do Brasil sua metáfora

Escritor gaúcho morre aos 88 anos em Porto Alegre, deixando um legado de humor, ironia e ternura que atravessou gerações

O Brasil acordou mais silencioso neste 30 de agosto de 2025. Luiz Fernando Verissimo, um dos maiores cronistas da literatura nacional, morreu em Porto Alegre, aos 88 anos, vítima de complicações de uma pneumonia. Filho de Érico Verissimo e herdeiro natural das letras, ele transformou a crônica em espelho e caricatura do país, unindo leveza e crítica social numa escrita que cabia em todos os lares.

Ao longo da vida, publicou mais de 70 livros, vendeu milhões de exemplares e criou personagens inesquecíveis, como o impagável Analista de Bagé, a Velhinha de Taubaté e o detetive Ed Mort. Nos anos 1990, suas “Comédias da Vida Privada” ganharam a televisão e se tornaram referência de uma época em que o cotidiano brasileiro ainda cabia em pequenos absurdos familiares. Cronista dos jornais Zero Hora, O Globo e O Estado de S. Paulo, fez do humor uma forma de resistência e de ternura.

A trajetória de um escritor múltiplo

Nascido em 1936, Verissimo cresceu entre Porto Alegre e os Estados Unidos, onde viveu parte da infância quando o pai era funcionário da ONU. De volta ao Brasil, dedicou-se à publicidade, à música — foi saxofonista amador de jazz — e à imprensa, até se firmar como um dos autores mais lidos do país. Escreveu contos, romances, traduções e roteiros, mas foi na crônica que encontrou seu território mais fértil.

Casado com Lúcia Helena Massa, deixa três filhos — Pedro, Mariana e Fernanda — e netos. Era um homem de hábitos discretos, que preferia o convívio íntimo à exposição midiática. Ainda assim, conquistou milhões de leitores que, diariamente, esperavam suas palavras como quem aguarda um conselho espirituoso de um velho amigo.

A despedida em Porto Alegre

O velório ocorre neste sábado (30), a partir do meio-dia, no Salão Nobre Júlio de Castilhos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Amigos, familiares, leitores e autoridades devem prestar a última homenagem ao cronista que traduziu, com humor refinado, as alegrias e contradições da alma brasileira. O local do sepultamento ainda não havia sido confirmado até o fechamento deste texto.

O Brasil em luto

Sua morte provocou comoção nacional. Escritores, jornalistas, políticos e leitores manifestaram pesar, lembrando que Verissimo foi mais do que um autor: foi cronista de uma época, intérprete de uma nação e defensor da democracia. Em tempos de discursos ásperos, ele oferecia ironia delicada; diante da violência, respondia com compaixão e riso.

Um ponto final que não se fecha

Luiz Fernando Verissimo nos deixa páginas que nunca envelhecem. Sua obra é memória e é futuro, é riso cúmplice e é crítica mordaz, é ternura em estado literário. Ao despedir-se, deixa um país órfão do cronista que transformava a vida comum em espetáculo de palavras. Mas, como todo grande escritor, permanece vivo naquilo que escreveu. E, para milhões de brasileiros, a leitura de Verissimo continuará sendo um encontro diário com o melhor de nós.

Da redação

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