Dineva Kayabi transforma educação em luta e floresta em futuro
Professora e liderança indígena do povo Kawaiwete assume protagonismo na COIAB e ecoa a urgência climática com a força da ancestralidade
Na Amazônia, onde cada rio guarda memórias e cada árvore é testemunha de resistência, florescem histórias que revelam a força das mulheres indígenas. Uma delas é a de Dineva Kayabi, do povo Kawaiwete (Kayabi). Professora, mestra em educação e agora vice-coordenadora tesoureira da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ela decidiu deixar a sala de aula para ampliar sua voz na defesa da floresta e dos povos que nela habitam.
“Já sentimos as mudanças climáticas na pele. Os pássaros não cantam na época certa, o rio seca tanto que podemos andar a pé e os peixes morrem sufocados. Em agosto, o calor asfixia e infla as queimadas. Quem está no ar-condicionado não vê”, alerta. Suas palavras não são metáforas: são diagnósticos de quem vive a Amazônia no corpo e no território.
Educação como ponte e arma política
Desde a adolescência, Dineva compreendeu que o conhecimento seria uma ferramenta de libertação. Aos 16 anos, começou a lecionar voluntariamente em sua comunidade, criando caminhos para jovens, adultos e pessoas com deficiência terem acesso ao ensino. Mais tarde, conquistou o título de mestra em educação, sempre com um pé na universidade e outro no chão da aldeia.
Hoje, seu compromisso extrapola os muros escolares. Ao assumir cargos de liderança, Dineva mostra que a educação indígena não é apenas transmissão de saberes, mas também ponte política e cultural, capaz de dialogar com governos e instituições para defender direitos.
Guardiã da floresta e do futuro
Para Dineva, reflorestar é mais do que plantar árvores. É restaurar modos de vida, reconectar gerações e salvar o planeta do colapso ambiental. “Estão estrangulando nossos rios com hidrelétricas e criando desertos verdes de soja e milho para exportação. A solução é reflorestar. Nós, indígenas, sabemos”, afirma.
Essa sabedoria ancestral tem sido traduzida em ações concretas pela atuação em fundos e programas que valorizam o protagonismo indígena. Ao lado de outras lideranças, Dineva defende que só haverá Amazônia viva se houver povos indígenas vivos e respeitados.
Uma luta que precisa de todos nós
A história de Dineva se conecta a um movimento global de solidariedade. Mais de 238 mil pessoas já assinaram a petição “Respeitem a Amazônia”, que busca garantir recursos e reconhecimento para povos indígenas e comunidades tradicionais que protegem a floresta. A meta é chegar a 250 mil assinaturas — um gesto simbólico e político que fortalece vozes como a dela.
Dineva é professora, é mãe, é filha de uma linhagem de mulheres que resistiram a perseguições e deslocamentos forçados. Mas, acima de tudo, é guardiã da esperança, lembrando que a floresta não é cenário distante: é casa, é vida, é futuro.
Valor Amazônico compartilha esta história como um convite à reflexão e à ação. Porque a Amazônia não pode esperar — e porque, como ensina Dineva Kayabi, “a solução é reflorestar”.