Milton Hatoum leva a Amazônia à imortalidade da Academia Brasileira de Letras
Primeiro amazonense eleito para a ABL, escritor marca presença histórica e reafirma a força da literatura produzida no Norte do país
Por Dora Tupinambá (*)
A tarde de 14 de agosto de 2025 entrou para a história cultural do Amazonas. O escritor manauara Milton Hatoum foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), se tornando o primeiro amazonense a ocupar uma cadeira entre os “imortais” da instituição fundada em 1897. Reconhecido pela crítica e pelo público como um dos maiores romancistas brasileiros contemporâneos, Hatoum passa a integrar a cadeira nº 6, sucedendo o jornalista e acadêmico Cícero Sandroni.
Com 33 dos 34 votos possíveis, a eleição foi recebida como vitória não apenas pessoal, mas coletiva, coroando décadas de dedicação à literatura e de compromisso com a identidade cultural da Amazônia. Autor de obras marcantes como Relato de um Certo Oriente, Dois Irmãos e Cinzas do Norte — todas traduzidas para diversos idiomas e vencedoras de prêmios nacionais e internacionais —, Hatoum sempre fez da Amazônia cenário e personagem de suas narrativas.
Voz do Norte no centro das letras brasileiras
A presença de um amazonense na ABL é símbolo de representatividade para uma região que, historicamente, teve pouca visibilidade nos espaços de consagração literária do país. A eleição de Hatoum é, portanto, mais que um reconhecimento individual: é um gesto que leva a voz, as memórias e as contradições da Amazônia ao centro das decisões culturais nacionais.
Suas histórias, ambientadas entre a Manaus do ciclo da borracha e a capital contemporânea, retratam conflitos familiares, transformações urbanas e tensões políticas que moldaram a identidade regional. Ao mesmo tempo, dialogam com temas universais, costurando pontes entre a cultura amazônica e o mundo.
Um legado que inspira
A eleição de Hatoum desperta orgulho e pavulagem legítima para o povo amazonense. Representa a certeza de que a produção cultural do Norte tem potência para ocupar qualquer palco, seja nos corredores silenciosos da Academia, seja nas prateleiras internacionais.
O feito abre portas para novas vozes e reafirma que a literatura é também instrumento de preservação da memória e de afirmação da identidade amazônica. Como o próprio escritor já disse em entrevistas, escrever é “uma forma de resistir e dar sentido às histórias que não cabem no esquecimento”.
(*) jornalista, amazônida, colaboradora e fundadora do Valor Amazônico.