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Adultização e algoritmos — o desafio de proteger crianças no mundo dos influenciadores

Caso Hytalo Santos expõe a necessidade de ação conjunta entre Justiça, famílias, órgãos de controle e sociedade para preservar a infância no ambiente digital

A investigação contra o influenciador digital Hytalo Santos, conduzida pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB), reacende um alerta sobre um dos dilemas mais complexos da era das redes: como garantir a proteção integral de crianças e adolescentes diante de um ambiente dominado por visibilidade, monetização e algoritmos que premiam a exposição extrema?

O conceito de “adultização” — ainda que não esteja tipificado no Código Penal — tem sido usado para descrever a forma como menores de idade são expostos a situações, falas e comportamentos com conotação sexual ou inapropriada para a fase de desenvolvimento em que se encontram. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é claro ao vedar qualquer forma de exploração ou constrangimento, reforçando que o direito à proteção integral prevalece sobre qualquer outra alegação.

O papel da Justiça

As medidas judiciais adotadas até agora mostram a gravidade dos indícios. Houve cumprimento de mandados de busca e apreensão na residência do influenciador, bloqueio de perfis nas redes sociais, suspensão da monetização de conteúdos e apreensão de equipamentos eletrônicos. São providências preventivas que buscam impedir a continuidade de eventuais violações, preservando as provas e a integridade dos menores.

Responsabilidade das famílias

Em sua defesa, Santos alega que havia consentimento dos responsáveis e que algumas participantes seriam emancipadas. Ainda assim, o ECA impõe limites claros: a autorização familiar não legitima a exposição de crianças e adolescentes a contextos que possam violar sua dignidade. Cabe aos pais discernir entre incentivo saudável e participação em práticas que transformem a infância em moeda de troca para engajamento digital.

O papel dos órgãos de controle

O caso ganhou repercussão após um vídeo-denúncia publicado pelo youtuber Felca, que mostrou a participação de menores em conteúdos de teor sexualizado. A partir daí, o MPPB intensificou as investigações, em curso desde 2024. No campo legislativo, surgiram novas movimentações: o deputado federal Reimont (PT-RJ) protocolou pedido de prisão preventiva, enquanto a deputada Tabata Amaral (PSB-SP) apresentou projeto de lei para impedir a monetização de conteúdos com menores, reforçando a importância de regulamentações específicas para o ambiente digital.

Sociedade vigilante

A ampla repercussão nas redes sociais e a mobilização de influenciadores e políticos mostram que há sensibilidade para o tema. Mas indignação momentânea não basta. É necessário que a sociedade assuma um papel ativo e permanente na proteção da infância — denunciando abusos, cobrando ações rápidas e promovendo educação digital tanto nas escolas quanto nos lares.

Um dever coletivo

Num cenário em que curtidas e visualizações podem se transformar em capital, o caso Hytalo Santos convida a uma reflexão urgente: qual o limite ético para o consumo e a produção de conteúdo com menores? A proteção da infância deve ser prioridade absoluta, unindo Justiça, famílias, órgãos de controle e sociedade. Sem essa união, cada “like” pode representar um passo a mais rumo à erosão de direitos fundamentais. A infância não é espetáculo: é patrimônio humano a ser cuidado, preservado e respeitado.

Da redação do Valor Amazônico

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