Lula e Xi Jinping reforçam aliança estratégica e defendem multilateralismo em meio à guerra comercial dos EUA
Presidentes discutem ampliação da cooperação, apoio ao Sul Global e presença chinesa na COP30, em Belém
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da China, Xi Jinping, reafirmaram o compromisso de ampliar a cooperação bilateral e fortalecer o papel do Sul Global diante das recentes tensões comerciais provocadas pela nova política tarifária dos Estados Unidos. A conversa, realizada por telefone na noite desta segunda-feira (11/8), durou cerca de uma hora e abordou temas de economia, diplomacia e meio ambiente.
De acordo com a agência chinesa Xinhua, Xi Jinping destacou a importância de estabelecer um exemplo de “unidade e autossuficiência” entre as principais economias emergentes e conclamou os países a se oporem ao unilateralismo e ao protecionismo. O líder chinês também declarou apoio ao povo brasileiro na defesa da soberania nacional e aos direitos e interesses legítimos do país, reforçando a necessidade de salvaguardar a equidade e a justiça na comunidade internacional.
Cooperação ampliada e novas oportunidades
Segundo nota do Palácio do Planalto, Lula e Xi saudaram os avanços obtidos nas sinergias entre os programas nacionais de desenvolvimento e se comprometeram a expandir a cooperação para setores como saúde, petróleo e gás, economia digital e satélites. A China, que já é o maior parceiro comercial do Brasil, mantém com o país uma Parceria Estratégica Global, o nível mais elevado de relação diplomática.
O diálogo ocorre em um cenário de crescente tensão comercial. Desde abril, o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, vem impondo barreiras alfandegárias a diversos países. Inicialmente, o Brasil foi taxado em 10%, mas em julho o valor subiu para 50% sobre 35,9% das mercadorias exportadas para o mercado norte-americano, atingindo principalmente setores de alimentos e manufaturados. As medidas entraram em vigor no último dia 6 de agosto.
Reação brasileira e busca por novos mercados
O governo federal prepara um plano de contingência para apoiar os setores mais afetados, incluindo linhas de crédito especiais e ampliação das compras públicas. Paralelamente, a política de comércio exterior de Lula busca abrir novos mercados, reduzindo a dependência de parceiros tradicionais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lembrou que as exportações para os Estados Unidos já representaram 25% do total brasileiro e hoje respondem por apenas 12%.
A conversa entre os líderes também tratou de questões comerciais específicas, como a negociação para ampliar a venda de pés de frango à China, aproveitando a retomada do status de país livre de gripe aviária.
Clima e cenário internacional
No campo ambiental, Lula reforçou o convite para a participação chinesa na COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro. Xi Jinping confirmou o envio de uma delegação de alto nível e a disposição de trabalhar com o Brasil para o êxito da conferência.
Os presidentes ainda trocaram impressões sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, defendendo esforços pela paz e a importância do papel do G20 e do Brics na construção de consensos e na defesa do multilateralismo.
Com a aproximação estratégica, Brasil e China sinalizam que pretendem não apenas proteger seus interesses econômicos, mas também influenciar os rumos da governança global a partir da perspectiva do Sul Global.
Da Redação do Valor Amazônico, com informações da Agência Brasil