Mulheres indígenas da Amazônia ocupam Brasília e reforçam a defesa de seus corpos e territórios
Lideranças de nove estados da Amazônia Legal participam da 1ª Conferência Nacional e da IV Marcha das Mulheres Indígenas, denunciando violências e reivindicando demarcação de terras
Cantos, rezas e danças em diferentes línguas ecoaram pelas ruas de Brasília, embalando a luta e a resistência. Entre os dias 2 e 8 de agosto, cerca de 5 mil lideranças de todo o país se reuniram na 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas e na IV Marcha das Mulheres Indígenas. O tema deste ano — “Nosso corpo, nosso território: somos as guardiãs do planeta pela cura da terra” — reafirmou a centralidade da voz feminina na defesa dos povos originários, da biodiversidade e da justiça climática.
Organizado pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério das Mulheres, o encontro promoveu debates sobre equidade de gênero, preservação dos territórios e combate a projetos de lei que ameaçam o meio ambiente.
A Fundação Amazônia Sustentável (FAS) participou ativamente, por meio do Programa de Protagonismo Indígena (PPI) e em parceria com a União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), garantindo a presença de cerca de 20 mulheres dos nove estados da Amazônia Legal. O apoio incluiu logística de alojamento e transporte, assegurando diversidade e representatividade amazônica.

“Somos nós que sentimos primeiro os impactos da destruição da floresta, das mudanças do clima, da falta de acesso à saúde e da violência sobre a terra e sobre o corpo. Estar na Conferência é dizer que não aceitaremos um futuro sem nossos territórios e saberes”, afirmou Rosa dos Anjos, coordenadora do PPI e indígena Mura.
Mobilização e entrega de reivindicações
No dia 7, a caminhada até o Congresso Nacional marcou o ato político da IV Marcha, culminando na entrega da Carta dos Corpos-Territórios em Defesa da Vida a parlamentares. O documento exige a demarcação de terras, o enfrentamento às violências de gênero e o veto ao Projeto de Lei 2159/2021 — apelidado de “PL da Devastação” — que flexibiliza licenças ambientais. Também houve críticas à lei do marco temporal, considerada uma ameaça aos direitos originários.

Durante a Marcha, a FAS manteve a Tenda Sementinhas da Ancestralidade, espaço para atividades pedagógicas com crianças, distribuindo publicações educativas como O Curupira na Amazônia e Animais e Plantas da RDS Rio Amapá, reforçando o vínculo das novas gerações com a cultura e o território.
Protagonismo que vai além da Marcha
A participação da FAS integra um conjunto de iniciativas para fortalecer o protagonismo indígena. Em 2023, o edital Parentas Que Fazem, apoiado pela Google.org, mapeou 118 organizações lideradas por mulheres indígenas, impulsionando atividades econômicas como artesanato, agricultura, extrativismo e medicina tradicional.
No esporte, o projeto Arquearia Indígena, criado em 2013, já revelou talentos como Graziela Yaci, do povo Karapãna, primeira arqueira indígena da seleção brasileira. Já o projeto Canoagem Indígena, iniciado em 2014, entra em novo ciclo com três núcleos formativos previstos para atender 120 jovens ribeirinhos e indígenas no Amazonas.
Compromisso pela floresta e pelas próximas gerações
Com 17 anos de atuação, a FAS reforça que apoiar as mulheres indígenas é garantir a continuidade da Amazônia.
“A luta das mulheres indígenas é a luta pela terra que nos dá vida. Apoiar essa causa é transformar solidariedade em ação concreta, protegendo territórios, culturas e vidas, para que a Amazônia siga viva para as próximas gerações”, concluiu Rosa.