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Wilson encurralado e David em evidência: a sucessão de 2026 no Amazonas já começou

A um ano da eleição, governador fragilizado tenta se salvar no Senado enquanto prefeito de Manaus emerge como nome forte, mesmo negando candidatura

A sucessão ao governo do Amazonas entrou oficialmente no radar político. E quem pensa que 2026 ainda está longe, se engana: as articulações já começaram, as movimentações nos bastidores se intensificam e os protagonistas desse jogo — uns por sobrevivência, outros por ambição — estão em plena campanha, ainda que informal.

Impedido constitucionalmente de disputar a reeleição, o governador Wilson Lima (União Brasil) tenta evitar um desfecho melancólico. Investigado por irregularidades na pandemia, incluindo fraudes em licitação e compras superfaturadas de respiradores, Lima aposta tudo numa candidatura ao Senado, única rota capaz de preservar seu foro privilegiado e evitar que seus processos caiam na primeira instância da Justiça — onde o risco de condenação é real.

Desde 2020, ele é alvo da Operação Sangria, que já o colocou no centro de uma denúncia da Procuradoria-Geral da República. O relatório final da CPI da Covid, no Senado, recomendou inclusive seu indiciamento por homicídio por omissão, diante do colapso de oxigênio que matou dezenas de pacientes em Manaus, em janeiro de 2021. A crise sanitária virou crise política — e agora ameaça sua liberdade.

Enquanto isso, do outro lado do tabuleiro, David Almeida (Avante) colhe os frutos de sua reeleição com mais de 54% dos votos e uma gestão que, apesar das críticas pontuais, consolidou sua liderança em Manaus, maior colégio eleitoral do estado. Publicamente, David afirma que não será candidato ao governo, mantendo o foco na prefeitura e reforçando sua aliança com o senador Omar Aziz (PSD). Mas nos bastidores, ele é tratado como plano B — ou até mesmo plano A, dependendo do desenrolar das alianças e rupturas.

David tem, a seu favor, a simpatia de segmentos populares, o controle da máquina municipal e uma imagem pública que, mesmo não blindada, ainda se mantém distante dos escândalos que atingem o Palácio do Governo. Tem também um vice-governador aliado, Tadeu de Souza, e transita com desenvoltura entre grupos políticos distintos, algo raro no ambiente polarizado da política amazonense.

Por outro lado, Omar Aziz, nome forte do Senado e ex-governador, lidera todas as pesquisas até aqui. Em cenário sem David, vence no primeiro turno. Com David na disputa, mantém vantagem — mas o jogo ficaria mais apertado. A relação entre os dois, marcada por aproximações e afastamentos ao longo da última década, é hoje uma aliança firme. Mas até quando?

Na política do Amazonas, alianças duram tanto quanto os acordos que as sustentam. E nenhum nome pode ser descartado. Wilson, mesmo em queda, ainda tem aliados, cargos e influência — embora cada vez mais cercado. Omar tem densidade, história e recall. E David tem o momento.

Em um cenário instável, com o atual governador acuado pela Justiça e o cenário nacional interferindo cada vez mais na dinâmica local, a disputa pelo governo do Amazonas já começou. E o eleitor amazônida precisará, mais uma vez, separar discurso de prática, promessas de passado, alianças de conveniências.

Da redação do Valor Amazônico

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