Após viagem proibida, Marcos do Val é interceptado e passa a usar tornozeleira eletrônica
Após viagem negada à Flórida, parlamentar é interceptado no aeroporto de Brasília e acusado por Moraes de burlar decisões judiciais
O cerco ao senador Marcos do Val (Podemos-ES) se apertou nesta segunda-feira (5/8). Investigado por suposta participação em campanhas de desinformação e ataques contra delegados da Polícia Federal, o parlamentar foi interceptado pela Polícia Federal ao desembarcar no aeroporto de Brasília e conduzido para a instalação de uma tornozeleira eletrônica, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A medida é uma reação direta ao que Moraes classificou como “afronta deliberada” às decisões judiciais. Do Val havia solicitado permissão para viajar aos Estados Unidos em julho — pedido que foi negado pelo STF. Ainda assim, deixou o país com passaporte diplomático, contornando a ordem de apreensão imposta meses antes.
Moraes endurece e impõe nova série de restrições
Além do uso obrigatório da tornozeleira, o ministro impôs a proibição de que o senador deixe sua residência no período noturno, aos fins de semana, feriados e dias de folga. Moraes ainda ameaçou prendê-lo em caso de novo descumprimento das medidas cautelares e reafirmou o bloqueio das redes sociais do parlamentar, além do bloqueio de contas bancárias, já determinado anteriormente.
Do Val é investigado pelo STF em dois eixos principais: campanha de ataques contra delegados da PF, responsáveis por apurações envolvendo apoiadores de Jair Bolsonaro; e planejamento de uma suposta trama para anular as eleições de 2022, segundo declarações e documentos obtidos em apurações sigilosas.
Uma escalada entre Judiciário e bolsonarismo
A reação do Supremo ao comportamento de Do Val está inserida em um cenário mais amplo de embates institucionais entre setores do Judiciário — especialmente o STF e o TSE — e parlamentares ligados ao bolsonarismo. Desde os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, o ministro Moraes tem sido alvo de críticas contundentes desse grupo, ao mesmo tempo em que intensifica as investigações e punições por tentativas de subversão da ordem constitucional.
A tentativa de Do Val de sair do país, mesmo com ordens expressas para entregar os passaportes, reforçou a percepção de desobediência institucional e tentativa de obstrução das investigações. “A conduta do investigado demonstra uma absoluta afronta à determinação do Poder Judiciário”, escreveu Moraes na decisão.
Defesa nega irregularidades e fala em cerceamento
Em nota, o senador negou qualquer descumprimento e afirmou que não estava impedido de sair do país. O texto também contesta a versão de que haveria risco de fuga e afirma que Do Val não é réu em nenhum processo judicial. “Em nenhum momento o senador esteve proibido de se ausentar do país”, diz o comunicado.
Já o gabinete do senador argumentou que as medidas cautelares impostas prejudicam o exercício pleno do mandato, e que sua defesa tomará as medidas legais cabíveis para assegurar os “direitos e garantias constitucionais de um senador da República”.
Imagem política em xeque
A imagem pública de Marcos do Val — que já transitou entre o ativismo pró-armas, apoio a Sergio Moro e participação em CPI — vem se desgastando progressivamente diante da série de denúncias, contradições em depoimentos e seu envolvimento em narrativas antidemocráticas.
Se antes era visto como um elo entre a direita institucional e as forças policiais, hoje o senador se vê isolado, com crescentes restrições judiciais e dificuldades de articulação política no Senado. O uso de tornozeleira, embora não represente uma condenação, reforça o simbolismo de vigilância sobre parlamentares envolvidos em ataques à democracia.