DESTAQUEREGIÃO AMAZÔNICA

Por que a COP30 em Belém corre o risco de calar as vozes da Amazônia

Enquanto autoridades reafirmam a sede na capital paraense, preços abusivos e decisões controversas desafiam a promessa de uma conferência inclusiva

Por Dora Tupinambá (*)

Belém foi escolhida para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) com o compromisso de dar protagonismo à Amazônia e aos povos que a defendem. No entanto, o cenário que se desenha revela contradições profundas entre o discurso oficial e a realidade da preparação para o evento. É hora de questionar: por que a COP que deveria ser da inclusão parece se afastar justamente de quem mais deveria estar nela?

Por que os preços de hospedagem estão expulsando delegações vulneráveis?

Delegações de países pobres e Pequenos Estados Insulares denunciaram tarifas até 15 vezes mais altas que o valor habitual, com diárias chegando a R$ 2.000. Como garantir participação efetiva de quem mais sofre com as mudanças climáticas se sequer conseguem pagar por um quarto? Onde estão as medidas concretas para subsidiar hospedagens e transporte para essas delegações?

Por que as comunidades amazônicas não estão no centro das decisões?

Projetos como a Avenida Liberdade, que corta áreas de proteção para facilitar o trânsito de autoridades, evidenciam que a lógica desenvolvimentista avança sobre a floresta. Por que obras de impacto ambiental são priorizadas enquanto lideranças indígenas, ribeirinhas e movimentos sociais continuam sendo tratadas como figurantes de um evento que deveria ouvi-los?

Por que ainda não há garantias reais de inclusão?

O governo anunciou 2.500 acomodações “a preços acessíveis”, mas ainda acima da realidade de muitos países vulneráveis. Se não houver subsídios e alternativas populares, a COP30 corre o risco de ser uma conferência feita para quem pode pagar, e não para quem precisa ser ouvido.

Por que transformar a Amazônia em palco em vez de protagonista?

A floresta será vitrine para discursos globais sobre preservação, mas quem vive e resiste nela poderá ocupar espaço nas mesas de decisão? Sem participação plena dos povos originários e comunidades tradicionais, a COP30 perde seu propósito e se transforma em mais um evento de promessas vazias.

As respostas que ainda faltam

A COP30 só terá legitimidade se responder, com ações concretas, a cada um desses questionamentos. Quem realmente vai representar a Amazônia? Quem vai garantir que as vozes indígenas não sejam abafadas pelo barulho das negociações de gabinete? Quem vai assegurar que a floresta não seja usada apenas como cenário de conveniência?

Se essas respostas não vierem, Belém corre o risco de sediar não a COP da Amazônia, mas a COP da exclusão e do espetáculo, deixando de lado aqueles que sempre estiveram na linha de frente da defesa da vida e do clima.

(*) Jornalista, amazônida e colaboradora do Valor Amazônico

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