Brasil reage à revisão parcial do tarifaço de Trump e mantém pressão por reciprocidade
Decisão de Washington exclui setores estratégicos, mas mantém café, carnes e frutas sob tarifa de 50%, mobilizando governo e produtores
A revisão da ordem executiva assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta quarta-feira (30), trouxe alívio parcial para setores estratégicos da economia brasileira. Produtos como aeronaves civis, motores, combustíveis, minérios, fertilizantes e suco de laranja foram retirados da lista de itens atingidos pela tarifa de 50%. No entanto, a manutenção da sobretaxa sobre café, carnes e frutas manteve em alerta o agronegócio nacional e provocou uma forte reação do governo Lula.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o recuo de Trump é insuficiente e reafirmou que o Brasil “não negociará sua soberania nem permitirá que decisões políticas externas interfiram na economia e na Justiça brasileiras”. Lula destacou ainda que Washington ignorou diversas tentativas de diálogo prévio, incluindo reuniões diplomáticas e uma carta formal enviada em maio.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que apresentará um plano emergencial de crédito para empresas exportadoras afetadas, com foco na preservação de empregos e no apoio aos setores mais prejudicados. Paralelamente, o Brasil estuda aplicar tarifas equivalentes sobre produtos norte-americanos, com base na Lei da Reciprocidade Comercial, caso os EUA mantenham a sobretaxa sobre alimentos.
Na arena internacional, diplomatas brasileiros articulam levar o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC), denunciando a utilização de tarifas como instrumento de pressão política. Segundo o Itamaraty, a decisão de Trump tem caráter “claramente político e retaliatório”, relacionado à defesa de Jair Bolsonaro, aliado do presidente norte-americano.
Produtores projetam perdas bilionárias
Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) estimam que a medida pode causar a perda de mais de 100 mil empregos e reduzir em até 0,2 ponto percentual o PIB brasileiro em 2025. Produtores de café e carne alertam para uma possível queda de até 50% nas exportações destinadas ao mercado norte-americano, enquanto o setor de suco de laranja teme instabilidade futura, mesmo após a exclusão temporária da tarifa.
Reação popular fortalece discurso de soberania
Nas redes sociais, a decisão de Trump gerou intensa mobilização popular, com manifestações virtuais em defesa de uma postura firme do Brasil frente aos EUA. O movimento conhecido como “vampetaço” voltou a ganhar força, simbolizando a rejeição a qualquer sinal de submissão a Washington.
Analistas apontam que o episódio fortaleceu politicamente o presidente Lula, que ampliou seu discurso nacionalista em defesa da independência do país. Parlamentares da base e até setores da oposição moderada sinalizaram apoio a uma resposta firme, reforçando um raro momento de unidade em torno da defesa da soberania brasileira.
Próximos passos
A expectativa é de que o governo brasileiro apresente, nos próximos dias, as medidas de apoio ao setor exportador e a estratégia de retaliação comercial. Enquanto isso, a diplomacia brasileira seguirá buscando apoio internacional para contestar as tarifas na OMC e evitar que a medida crie um precedente perigoso para o comércio global.
Para o Planalto, a revisão parcial de Trump não elimina o caráter coercitivo da decisão. “O Brasil vai continuar defendendo sua economia e suas instituições, sem aceitar ser tratado como um país submisso a interesses externos”, afirmou Lula em pronunciamento nesta tarde.