Petróleo na foz do Amazonas reacende disputa entre desenvolvimento e preservação
Leilão de 19 campos movimenta R$ 989 milhões e provoca reação de comunidades e ambientalistas às vésperas da COP30
O leilão de 19 novos campos de petróleo na foz do rio Amazonas, realizado pelo governo federal em junho, abriu um dos debates mais sensíveis para o futuro da Amazônia. Com arrecadação de R$ 989 milhões em bônus de assinatura e previsão de investimentos anuais superiores a R$ 1,4 bilhão, o certame atraiu gigantes como Petrobras, ExxonMobil, Chevron e a estatal chinesa CNPC. O anúncio ocorre em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30, em Belém, e projeta liderança internacional no combate às mudanças climáticas.
As áreas leiloadas, localizadas nos estados do Amapá e Pará, ampliaram em quase quatro vezes a extensão de blocos exploratórios na região costeira amazônica. Para os defensores do projeto, os recursos gerados poderiam impulsionar a arrecadação e financiar programas sociais e de transição energética. No entanto, para comunidades tradicionais e organizações ambientais, o leilão representa uma ameaça à biodiversidade e aos modos de vida de povos indígenas e ribeirinhos.
Falta de consulta prévia
Lideranças indígenas criticaram duramente a ausência de consulta livre, prévia e informada, prevista na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Representantes de povos costeiros alertam que a exploração poderá comprometer manguezais, recifes de corais e a pesca artesanal, base alimentar e econômica de centenas de famílias.
“O Brasil precisa decidir de que lado da história quer estar. Não se pode falar em liderança climática na COP30 e, ao mesmo tempo, avançar sobre territórios sem ouvir quem vive e protege esses espaços há séculos”, afirmou o cacique Ninawá Huni Kui, do Acre.
Ambientalistas apontam contradições
Organizações como Greenpeace e Observatório do Clima classificaram a decisão como uma “dupla sabotagem”: às metas brasileiras de redução de emissões e à credibilidade do país nas negociações climáticas internacionais. Estudos estimam que a exploração desses campos poderia liberar mais de 100 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente ao longo dos anos, quase o dobro das emissões anuais dos Estados Unidos.
Os protestos ganharam visibilidade internacional durante encontros preparatórios para a COP30 em Bonn, na Alemanha, onde manifestantes exibiram faixas criticando o governo brasileiro e o avanço da fronteira fóssil na Amazônia.
A encruzilhada amazônica
A exploração de petróleo no delta do Amazonas expõe uma contradição central: o desafio de conciliar desenvolvimento econômico e proteção socioambiental em uma das regiões mais estratégicas do planeta. Para comunidades locais, a questão não é apenas econômica, mas de sobrevivência cultural e ecológica.
Enquanto o país se prepara para receber líderes mundiais em novembro, cresce a pressão para que o governo brasileiro reveja a política de expansão de combustíveis fósseis na Amazônia e apresente compromissos mais consistentes com a transição energética. Para os amazônidas, a luta é clara: defender a floresta, os rios e as pessoas que dependem deles para viver.