ZFM sob ataque: tarifas de Trump ampliam incerteza sobre economia amazônica
Medida unilateral dos Estados Unidos ameaça exportações brasileiras, com impacto direto sobre empregos e produção no Polo Industrial de Manaus
A guerra comercial anunciada por Donald Trump atinge em cheio a Zona Franca de Manaus (ZFM) e setores econômicos da Amazônia Legal. Com a imposição de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, cresce a preocupação sobre os impactos diretos no Polo Industrial de Manaus (PIM), responsável por mais de 500 mil empregos diretos e indiretos.
A retaliação foi anunciada pelo presidente dos Estados Unidos como resposta à condenação de Jair Bolsonaro no Brasil, uma medida que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como “chantagem econômica inaceitável”. Para além do embate político, a tarifa tem potencial de provocar instabilidade econômica justamente na principal zona de proteção da floresta amazônica.
Setores mais atingidos e risco sobre empregos
O Amazonas exporta diretamente para os EUA produtos derivados da indústria de duas rodas, eletroeletrônicos, concentrados de bebidas e alguns componentes da indústria química. Dados da Suframa apontam que os EUA figuram entre os três principais destinos de exportação do PIM.
“A Zona Franca já enfrenta desafios logísticos e tributários. Esse ataque unilateral amplia ainda mais a insegurança jurídica e ameaça cadeias produtivas instaladas há décadas na região”, avalia a economista Marilia Cantanhede, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
Empresários ouvidos pelo Valor Amazônico alertam que o maior temor é o efeito sobre empregos diretos na indústria manauara. Segundo a Federação das Indústrias do Amazonas (FIEAM), pelo menos 75 mil postos de trabalho podem ser impactados em curto prazo caso as tarifas se mantenham.
Governo aposta em OMC e novos mercados
A resposta do governo brasileiro veio em três frentes: representação formal na Organização Mundial do Comércio (OMC), estudo de contramedidas tarifárias contra produtos norte-americanos e redirecionamento de exportações para mercados alternativos, como União Europeia e países da Ásia.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu o desafio: “Não podemos deixar a Amazônia, que já enfrenta a crise climática, sofrer também o peso da geopolítica internacional. Estamos trabalhando para proteger empregos, renda e a soberania industrial da região”.
Economistas defendem reindustrialização verde
Para especialistas em economia amazônica, o episódio é mais um alerta sobre a necessidade de repensar o modelo produtivo regional.
“A dependência de cadeias industriais tradicionais torna a Amazônia vulnerável. O caminho é acelerar a bioeconomia, inovação tecnológica e cadeias produtivas verdes, integradas com conservação ambiental”, defende o pesquisador Eduardo Costa, da FGV Amazônia.
Projetos recentes como o Distrito de Inovação da Ilha de São Vicente, em Manaus, e a Zona Franca Verde têm sido apontados como alternativas estratégicas para reduzir a dependência do mercado externo e diversificar a economia local.
Próximos passos
O Valor Amazônico seguirá monitorando os desdobramentos da crise tarifária entre Brasil e EUA. Nas próximas semanas, o setor empresarial do Amazonas deve enviar comitiva à Brasília para cobrar ações efetivas do governo federal.
Para a Zona Franca de Manaus, mais do que um episódio pontual, o embate atual levanta um questionamento central: qual o futuro da economia amazônica em um mundo cada vez mais polarizado?
Da Redação