Ibama aplica R$ 173 milhões em multas e expõe avanço brutal do desmatamento na Amazônia
Em apenas seis meses, área devastada equivale a 26 mil campos de futebol; especialistas cobram ações integradas para conter destruição
A repressão ao desmatamento ilegal na Amazônia ganhou um capítulo marcante em 2025. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aplicou mais de R$ 173 milhões em multas ambientais somente no primeiro semestre do ano, atingindo desmatadores responsáveis pela devastação de uma área superior a 26 mil campos de futebol.
Os dados, divulgados pelo Ibama evidenciam o volume recorde de autuações desde 2020. As principais infrações envolvem corte raso de floresta nativa, exploração seletiva de madeira sem autorização e invasões em áreas de conservação e terras indígenas.
O crescimento das multas representa o esforço de reforço na fiscalização, principalmente com a retomada das operações de campo, bloqueios fluviais e uso de satélites de alta resolução. Só em junho, 41 grandes operações foram realizadas na Amazônia Legal, com apreensão de maquinário pesado, embarcações e carregamentos ilegais de madeira.
Mas para ambientalistas, o aumento no valor das multas não se converte, necessariamente, em redução da destruição. “A floresta continua sangrando. Multar é importante, mas sem recuperação efetiva de áreas devastadas e responsabilização penal, esses números viram apenas estatística”, alerta o biólogo Márcio Sena, da Rede Amazônia Viva.
Amazonas também na lista de autuações
O estado do Amazonas figura entre os mais impactados pelas infrações, especialmente nas regiões do sul do estado, como Apuí, Lábrea, Boca do Acre e Humaitá — zonas pressionadas pelo avanço do agronegócio ilegal e pela expansão da pecuária em áreas de floresta.
Só em Lábrea, operações recentes do Ibama flagraram desmatamento em unidades de conservação estadual, com autuações que superam R$ 25 milhões em penalidades. “É o velho ciclo da grilagem: a floresta é derrubada, o território é ocupado, a punição chega tarde demais”, lamenta Sena.
Justiça ambiental ou ilusão punitiva?
A efetividade das multas ainda é tema de debate. Dados do Tribunal de Contas da União (TCU) apontam que menos de 4% dos valores autuados nos últimos cinco anos foram efetivamente recolhidos aos cofres públicos. Recursos judiciais, lentidão no processamento e esquemas de corrupção enfraquecem o impacto financeiro das penalidades.
Para a advogada ambientalista Camila Tavares, o caminho precisa incluir desencorajamento econômico ao crime ambiental, com bloqueios de bens, embargos definitivos e responsabilização de empresas que se beneficiam do desmatamento.
“Sem sufocar a cadeia financeira dos destruidores da floresta, as multas viram apenas papel”, reforça Camila.
Amazônia na encruzilhada
Os R$ 173 milhões em multas evidenciam a força repressiva do Ibama, mas também o tamanho do desafio. A Amazônia continua sob forte ameaça, e o ciclo de destruição permanece alimentado por corrupção, impunidade e ausência de presença permanente do Estado em áreas críticas.
A aplicação da lei é fundamental, mas especialistas defendem uma virada de chave: da repressão reativa para prevenção ativa, integrando geração de emprego sustentável, proteção territorial e valorização das populações tradicionais.
Enquanto isso, o saldo ambiental segue doloroso: mais de 26 mil campos de futebol de floresta derrubados só em 2025. E o futuro da Amazônia segue pendendo entre duas escolhas: devastação ou regeneração.