DESTAQUEREGIÃO AMAZÔNICA

Governo apresenta plano climático até 2035, mas populações amazônidas temem falta de ação concreta

Estratégia federal mira redução de emissões e fim do desmatamento ilegal, mas lideranças locais apontam entraves e cobram protagonismo da Amazônia

O governo federal anunciou, em 2025, um novo plano nacional para enfrentar a crise climática, estabelecendo metas ousadas até 2035. A proposta é reduzir de 59% a 67% das emissões líquidas de gases de efeito estufa, tomando como base o ano de 2005. O anúncio chegou com promessas robustas, mas também com a dúvida que sempre paira sobre políticas ambientais no Brasil: o discurso será transformado em prática?

O chamado Plano Clima 2035 é estruturado em dois eixos centrais — mitigação, para reduzir emissões, e adaptação, para proteger comunidades vulneráveis contra os efeitos já sentidos da mudança do clima. Ao todo, o plano prevê sete programas específicos para mitigação, dezesseis para adaptação e diretrizes transversais que abordam financiamento verde, governança integrada e transição justa para populações impactadas.

Lideranças indígenas, representantes de comunidades tradicionais e especialistas ambientais da Amazônia receberam o anúncio com ceticismo. Apesar da retórica alinhada aos compromissos internacionais, o histórico recente do país levanta dúvidas sobre a real capacidade de implementação.

“A impressão é de que temos bons planos, mas pouca governança no território. Sem fiscalização efetiva, a Amazônia continuará sofrendo, independentemente do que for assinado em Brasília ou em Belém”, alerta a ambientalista Francine Mota, do Coletivo Guardiões da Floresta, em Manaus.

Um dos principais gargalos apontados é a sobreposição de competências entre ministérios e secretarias, o que dificulta ações integradas. Outro fator preocupante é a pressão do agronegócio e de setores empresariais que enxergam a transição ecológica mais como custo do que como oportunidade.

Combate ao desmatamento segue sendo promessa

O governo promete zerar o desmatamento ilegal até 2030 e recuperar milhões de hectares de áreas degradadas. A promessa, embora bem recebida, esbarra na falta de recursos e na fragilidade dos órgãos fiscalizadores, como o Ibama e ICMBio, que enfrentam déficit de pessoal em regiões críticas da Amazônia.

Com a aproximação da COP30 — que acontecerá em Belém em novembro — a expectativa é que o Brasil consiga apresentar projetos concretos, especialmente através do Fundo Florestas para Sempre (TFFF), uma proposta de financiamento voltada para garantir recursos permanentes à conservação e recuperação florestal.

“Não podemos mais aceitar que a Amazônia seja vista só como vítima do colapso climático. Ou o plano coloca nossos povos como protagonistas ou estaremos assistindo mais uma política de cima para baixo”, pontua o sociólogo indígena Arnaldo Kaxuyana.

Oportunidades econômicas e desafios políticos

Se bem executado, o Plano Clima poderá movimentar a bioeconomia, estimular cadeias produtivas sustentáveis e canalizar bilhões em investimentos de fundos climáticos internacionais. A regulamentação de créditos de carbono e pagamento por serviços ambientais também integra o pacote de medidas, mas a regulamentação definitiva ainda é incerta.

Governadores da Amazônia Legal cobram detalhes: onde estão os recursos para ribeirinhos, quilombolas e indígenas? Como será feita a transição energética sem comprometer a subsistência local? E, principalmente, quais serão os mecanismos de monitoramento para evitar que o plano vire apenas marketing ambiental?

Amazônia na encruzilhada da história

O lançamento do Plano Clima reacende a esperança, mas também a vigilância. Para a Amazônia, trata-se de uma encruzilhada histórica: ou o Brasil assume a liderança global como guardião do maior bioma tropical do planeta, ou continuará figurando entre as nações que vendem sustentabilidade para fora, mas negligenciam sua aplicação no próprio território.

Em novembro, na COP30, o mundo estará de olhos voltados para a Amazônia. A região terá a chance de exigir menos discurso e mais ação — menos exploração e mais investimento — menos invisibilidade e mais protagonismo.

Fotos: Arquivo/EBC

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