Ariá resgata memória amazônica e leva Valer e Inpa ao Prêmio Jabuti Acadêmico
Obra bilíngue celebra o tubérculo amazônico e une ciência, cultura e sustentabilidade na disputa de duas categorias do principal prêmio acadêmico do país
Manaus volta a figurar com destaque no cenário nacional da literatura acadêmica. A obra Ariá: um alimento de memória afetiva, fruto da parceria entre a Editora Valer e a Editora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), foi anunciada como semifinalista da 2ª edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) em conjunto com a Academia Brasileira de Ciências (ABC).
Concorrendo nas categorias Ilustração e Divulgação Científica, o livro é organizado pela pesquisadora do Inpa, Noemia Ishikawa, e reúne um time de autores indígenas e não indígenas em torno de uma missão: resgatar a história e os saberes que envolvem o ariá (Goeppertia allouia), um tubérculo tradicional da Amazônia em risco de esquecimento nas feiras e mercados da região.
“É mais do que um livro, é um reencontro da população amazônica com sua cultura e seu chão”, destacou Neiza Teixeira, coordenadora editorial da Valer e doutora em Filosofia. Segundo ela, chegar às semifinais do Jabuti Acadêmico representa a valorização do conhecimento popular e científico da Amazônia.
O alimento da memória
A inspiração do projeto nasceu das lembranças da avó de um dos coautores, o jovem Eli Minev Benzecry, de 17 anos, e evoluiu para uma obra bilíngue — português e Ye’pâ-masã (Tukano) — que atravessa gerações, promovendo um diálogo respeitoso entre ciência e tradição.
Com receitas criadas por chefs renomados, ilustrações sensoriais de Hadna Abreu e textos que unem pesquisa científica e memória afetiva, o livro revela o potencial do ariá como alimento resiliente, importante para a segurança alimentar em tempos de crise climática.
Diálogo de saberes
O diretor do Inpa, Henrique Pereira, ressalta no prefácio que o livro é um convite para redescobrir os alimentos amazônicos sob uma perspectiva sustentável. “Ele celebra a sociobiodiversidade, promovendo um olhar de soberania alimentar para as comunidades da região”, afirmou.
Para a organização do Jabuti Acadêmico, a obra é exemplo do tipo de produção científica que a premiação busca reconhecer: trabalhos que transcendem a academia e impactam social e culturalmente seu território.
O resultado final da premiação será divulgado nos próximos meses, mantendo a expectativa da comunidade científica e literária da Amazônia. Até lá, o Ariá segue seu percurso como símbolo do reencontro entre ciência, cultura e memória popular.