Começa em Munique o julgamento de empresário alemão acusado de abusar sexualmente de adolescente indígena no Amazonas
Vítima, da etnia Kokama, moradora do Parque das Tribos, já está em Munique, acompanhada de seu advogado, Isael Munduruku, e será ouvida em audiência na justiça alemã, nesta quinta-feira (21//11)
Por Dora Tupinambá
Na próxima quinta-feira (21/11), no Tribunal de Munique, na Alemanha, começa novo processo criminal contra o empresário alemão Wolfgang Brog, de 75 anos, condenado pela justiça amazonense a 30 anos de prisão por abusar sexualmente de crianças e adolescentes na pousada, “Cheiro de Mato”, localizada no municipio de Novo Airão, de sua propriedade.
Uma das vítimas, uma adolescente indígena da etnia Kokama, moradora do Parque das Tribos, zona Centro-Oeste de Manaus, chegou nesta terça-feira (19/11), à Munique, acompanhada de seu advogado, Isael Munduruku, que é presidente do Instituto de Direitos Indígenas e advogado da Comunidade Parque das Tribos em Manaus, para participar do processo e buscar justiça internacionalmente.

O advogado, destaca que a presença da vítima nessa audiência criminal na Alemanha, simboliza um passo importante na luta por justiça para comunidades indígenas frequentemente ignoradas em questões legais internacionais. Isael, que também é indígena, desempenha um papel crucial como advogado da comunidade Parque das Tribos, se destacando na defesa de direitos humanos e no combate à exploração sexual.
Embora tenha fugido do Brasil para Alemanha, o empresário não escapou da justiça. Voltou e agora está preso, e vai novamente a julgamento.
De acordo com o advogado Isael Munduruku, nesta quinta-feira, a vítima será ouvida aqui pelas autoridades do Poder Judiciário da Alemanha. Ainda não será o julgamento do caso. A justiça da Alemanha está apenas iniciando o processo de investigação, independente do que aconteceu em território brasileiro e que já foi julgado em primeira instância pela Justiça brasileira.
Sobre os crimes
Os abusos contra a vítima teriam começado quando ela tinha 6 anos e se estenderam até os 15 anos. Em junho de 2024, a Justiça do Amazonas condenou Brog a 30 anos de prisão por esses crimes.

As investigações revelaram que Brog explorava sexualmente outras crianças e adolescentes em sua pousada, “Cheiro de Mato”, localizada no Amazonas. A mãe da vítima também foi condenada a 14 anos de reclusão por obrigar a filha a manter relações com o empresário.
Após a condenação no Brasil, Brog fugiu para Alemanha, onde foi preso preventivamente e aguarda julgamento por crimes sexuais cometidos no exterior. A mãe, tia e irmão da vítima também foram condenados por, também, terem participado do crime, já que recebiam dinheiro do criminoso, por conta dos abusos sexuais praticados.
Importância da cooperação internacional
Este caso ressalta a relevância de esforços conjuntos entre países para garantir que criminosos não escapem da justiça ao cruzarem fronteiras. A condenação de Wolfgang Brog no Brasil e sua prisão preventiva na Alemanha demonstram que, apesar das barreiras geográficas e culturais, é possível responsabilizar infratores e proteger os direitos das vítimas.
Impacto nas comunidades indígenas
Os abusos revelados durante as investigações refletem o ciclo de vulnerabilidade enfrentado por comunidades indígenas no Brasil, muitas vezes expostas a condições de exploração devido à pobreza, discriminação e isolamento. A tragédia vivida pela adolescente Kokama ilustra não apenas uma violação de direitos individuais, mas também um ataque à dignidade e à integridade cultural de um povo.
Desafios no sistema judiciário internacional
Apesar das condenações no Brasil, a fuga de Brog para a Alemanha levantou questões sobre as lacunas nos sistemas judiciais globais. Especialistas em direito internacional apontam que casos como este evidenciam a necessidade de tratados mais eficazes para extraditar e julgar criminosos de forma rápida e justa, independentemente de sua nacionalidade ou localização.
O papel da sociedade civil e da mídia Organizações de defesa dos direitos humanos e a mídia têm desempenhado um papel vital na divulgação deste caso, pressionando autoridades alemãs para garantir um julgamento justo. A atenção internacional gerada ajuda a criar um precedente importante para casos semelhantes, ampliando o alcance da justiça e destacando a urgência de proteger os mais vulneráveis.
fotos: Arquivo